Fim do celibato evitaria comportamentos "desviantes"

No dia em que festeja 73 anos, o padre António Fontes, de Vilar de Perdizes, em Montalegre, afirma que a Igreja Católica deve ser menos conservadora e abolir o celibato para evitar comportamentos "desviantes" no clero.
Publicado a
Atualizado a

Em entrevista à agência Lusa, o organizador do Congresso de Medicina Popular de Vilar de Perdizes considera que o celibato "não é recomendável, útil e praticável".

A religião, acredita, seria "mais atrativa" se os agentes do clero pudessem constituir família.

Inicialmente, disse, a sociedade "hostil e crítica" iria estranhar ver padres casados e com filhos, mas adaptar-se-ia.

"No fim da vida, os eclesiásticos sentem-se abandonados porque não têm ninguém que cuide deles. Não têm mulher, filhos e morrem na solidão, abandonados pela igreja", realçou.

Deus, salientou, não dá vocação só a homens e solteiros. E, acrescentou, o celibato é, muitas vezes, a causa de comportamentos "desviantes".

"Devido à proibição de casar, os padres são mais alvejados, porque não têm mulher e a sua atividade sexual pode ser desviada", afiançou.

Sobre os casos de abusos sexuais na Igreja Católica, o padre diz que é uma "chaga" de todas as idades, civilizações e classes.

Apesar de terem mais responsabilidades, explicou, os padres são humanos, têm falhas e também "partem a asa à caneca".

"Os que cometem atos negativos devem ter uma punição mais exemplar", declarou.

Portador da doença de Parkinson, o padre Fontes entende e concorda "plenamente" com a decisão do papa Bento XVI.

O sucessor deve, na sua opinião, ser mais novo, menos conservador e mais atento a países do Terceiro Mundo.

António Fontes acha que Joseph Ratzinger, de 85 anos, tem uma mentalidade muito fechada, embora intelectual, e estava "pouco aberto" a algumas funções que a Igreja Católica exige.

Por comparação, frisou, João Paulo II era mais atrativo e cativou o mundo pela sua simplicidade e humildade, mas dar-lhe seguimento era "difícil".

Amante das novas tecnologias, o aniversariante revelou acompanhar a evolução do país e acha que a crise não acaba "tão cedo".

As manifestações de protesto, entende, são legítimas, mas devem ser feitas com educação, dignidade e sem provocações.

"A solução tem de doer. Quando uma ferida está a ser curada se se mexer dói", ressalvou.

O regresso ao mundo rural poderá, segundo António Fontes, ser uma "boa hipótese", porque há terrenos para cultivar, casas abandonadas e qualidade de vida.

Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o organizador do congresso de Vilar de Perdizes constitui-se como uma figura de destaque nacional e divulgador da cultura do Barroso, através da publicação de livros, monografias e artigos em jornais.

Responsável por quatro paróquias, o seu dia-a-dia caracteriza-se por acordar cedo, comer bem, jogar às cartas, comunicar no 'Skype' e no 'Facebook' com familiares e amigos.

O mais velho de sete irmãos gostava de ver publicado as suas mais de 100 pastas de documentos sobre a história, arqueologia, cultura, usos, música e gastronomia da região.

No ano em que comemora 50 anos de sacerdócio, o padre Fontes acredita que será recordado como o "padre bruxo".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt